Casa do Pretahub em São Paulo oferece estrutura gratuita para aprendizado, criação de conteúdo e conexões (crédito: divulgação/reprodução PEGN)
Hoje, 26 de agosto, dia do Afroempreendedorismo (no calendário do Estado de São Paulo), é uma data importante para lembrar uma coisa: algo é difícil para alguns, mas pode ser mais difícil ainda para outros.
Provavelmente, a maioria das pessoas que lerão esse artigo já deve ter assistido ao vídeo “A corrida dos privilégios” (The $100 Dollars Race), que está disponível no YouTube em diversos canais.
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O vídeo fala de privilégios e de como a falta deles impacta e incorre em desafios que as pessoas que tiveram menos condições terão que enfrentar para chegar, talvez, ao mesmo lugar que outras, com melhores condições, podem chegar mais rápido. A maioria dessas pessoas é negra.
A vida não é justa, fato. Mas, ela é real. Segundo o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), “o homem é ele e suas circunstâncias”, o que significa que os desafios que enfrentamos nos definem tanto quanto quem somos.
Há seis meses comecei o projeto www.empreendabilidade.com.br e desde então venho observando o ecossistema empreendedor em busca de cruzamento de dados que possam incentivar mais negócios nascentes a darem certo, e mais pessoas a empreenderem da forma correta.
No dia de hoje, alguns dados chamam a atenção:
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Negros potencialmente abrem mais negócios por necessidade:
- Empreendedores em geral, cerca de 50% (49,6%) dos empreendedores iniciais abrem um negócio por necessidade (2021). Em 2020 (ano da pandemia), o percentual foi de 53,9% (Global Entrepreuneurship Monitor);
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- Nas favelas, 57% dos empreendedores declara ter investido nesse formato de trabalho para driblar a ausência de oportunidades com carteira assinada no mercado formal (DataFavela);
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Homens negros são o retrato dos empreendedores brasileiros (DataSebrae):
- São 9,8 milhões de homens negros empreendendo;
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- Mulheres Negras são 4,7 milhões;
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- Aproximadamente 50% dos empreendedores brasileiros se declaram negros ou pardos;
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O empreendedor negro brasileiro enfrenta DESAFIOS EXCLUSIVOS (DataSebrae – por raça):
- Foram os mais prejudicados/afastados de sua atividade com a crise da pandemia da Covid-19
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- Foram os que tiveram recuperação mais modesta após a crise da Covid-19
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- São os que (estruturalmente):
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- Possuem menor nível de escolaridade
- Possuem menor nível de rendimento mensal
- Possuem a maior proporção de conta própria (e menor de empregadores)
- Entre os empregadores, possuem menos empregados (negócios menores)
- São os que estão há menos tempo na atividade
- São os que estão menos formalizados
- São os que menos contribuem à previdência
- São os mais jovens
- São os que têm maior dificuldade de acessar crédito
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Ou seja, se empreender é um desafio, para os negros é muito mais.
Porém, outro fato chama a atenção (observação empírica): há bastante gente cujas circunstâncias serviram de incentivo para empreender em negócios que, justamente, tornam tornar a “corrida” do próximo mais equiparada.
Listamos abaixo 8 exemplos desses empreendedores que vêm atuando com o propósito muito legítimo de fazer o Afroempreendedorismo prosperar:
- Movimento Black Money – hub de inovação voltado a dar melhores perspectivas para empreendedores da comunidade negra em crédito, educação e ações para o crescimento do negócio.
- PretaHub – pensa a relação com a cultura, a economia e o empreendedorismo pretos, a partir de um olhar propositivo visando a mudança estrutural da sociedade e do mercado.
- Favelahub – Polo de inovação social localizado no território da Favela do Cantagalo-Pavão Pavãozinho, Zona Sul do Rio de Janeiro, que propõe e aplica soluções sustentáveis e escalonáveis para transformação social.
- Feira Preta – nasceu em 2002, focada na venda de produtos de empreendedores negros. Com o passar dos anos, se tornou um festival com conteúdos, produtos e serviços nos mais diversos segmentos. Neste ano de 2022 acontece de 04 de novembro a 04 de dezembro em São Paulo.
- Programa Prolíder – Wellington Vitorino, hoje estudando no MIT com uma bolsa da Fundação Estudar começou a trabalhar cedo. Se diferenciou por gostar de estudar e, em 2016, passou a oferecer um curso com o objetivo dar boas bases para futuras lideranças no Brasil.
- Conta Black – Fundada por Sérgio All, que atuou com videogames e teve uma agência de comunicação, busca oferecer soluções de crédito para pessoas negras e seus negócios.
- Parças Developer School – Diante do gap de profissionais de tecnologia e programadores e da falta de perspectivas para jovens egressos do sistema prisional e de regiões periféricas, Alan Almeida resolveu unir os dois desafios e capacitar essas pessoas para o mercado de trabalho.
Ricardo Meireles – Publisher do www.empreendabilidade.com.br