CUFA e Fundação Dom Cabral criam Escola de Negócios da Favela e formam a primeira turma de empreendedores

O público-alvo do projeto são moradores de favelas brasileiras que já tenham seu próprio negócio, independentemente do estágio de maturidade

Central Única das Favelas (CUFA), a Fundação Dom Cabral (FDC) e o Favela Fundos formaram uma parceria para criar a Escola de Negócios da Favela, que promove jornadas de desenvolvimento para empreendedores das favelas de todo o Brasil. A primeira turma recebe nesta quarta-feira (28) o diploma de formação — os alunos são os 10 finalistas da Expo Favela 2022, que teve sua primeira edição em abril deste ano.

Entre as iniciativas da primeira turma, estão a Avia!, do empreendedor José Márcio Macêdo. A startup funciona como um delivery de comida e tem o propósito de solucionar o problema da exclusão e do distanciamento dos serviços de delivery tradicionais via aplicativo. A ideia é conectar consumidores e empreendedores do setor da alimentação, residentes em regiões que estão à margem dos grandes centros urbanos.

Também na primeira turma está a Badu Design Circular, da empreendedora Ariane Santos, negócio de impacto socioambiental com foco em ESG. A startup tem como propósito gerar mobilidade social nas comunidades, por meio da formação de mulheres periféricas em design circular. Com os conhecimentos adquiridos, essas profissionais iniciam a produção de peças de design utilizando resíduos industriais, gerando renda e fomentando a consciência ecológica.

Victor Garcez, da startup Vision03, é outro aluno da primeira turma. A empresa é um estúdio de games e marketing que possui como propósito o empoderamento da imaginação de grupos marginalizados a partir da construção de novas narrativas por meio de jogos digitais. As demais empresas participantes são La Piel Negra Lingeries (vestuário e acessórios), AMITIS (agronegócio), Todas por Uma (tecnologia), Trucss (vestuário e acessórios), Miritilab (edutech), Notícia Preta (Comunicação) e Parças Developers School (educação).

Desafios do dia a dia

A escola nasce da junção da experiência de 20 anos da CUFA, presente em cinco mil favelas brasileiras e em quatro países, com os 46 anos de história da FDC, melhor escola de educação executiva da América Latina. A instituição está entre as nove melhores escolas de negócio do mundo, na nona posição do ranking de educação executiva do Financial Times.

Por meio de encontros presenciais e de uma plataforma digital com linguagem mais próxima dos desafios do dia a dia, os alunos aprendem conteúdos específicos para cada tipo de empreendimento. O público-alvo da Escola de Negócios são moradores da favela brasileira que já tenham seu próprio negócio, independentemente do estágio de maturidade. Essa jornada de capacitação totalizou 54 horas e priorizou a lógica do aprender fazendo – pequenas pílulas de conteúdo seguidas de muita prática.

“As escolas de negócios não são isoladas da sociedade, elas precisam seguir os desafios impostos pelo território em que operam. Somos reconhecidos no mundo e temos um compromisso ético com o Brasil. Não podemos ficar indiferentes diante do persistente ciclo de pobreza e da gigantesca desigualdade social no nosso país”, afirma Ana Carolina Almeida, líder da iniciativa na Fundação Dom Cabral.

Ela explica que, em 2021, a FDC incluiu na estratégia da instituição a educação social, com o objetivo de responder aos desafios da necessidade de geração de renda. “Para nós é uma honra construir, junto com o Celso Athayde e todos os parceiros da periferia, essa escola de negócios que abraça a potência do empreendedorismo de favela”, completa.

Segundo Ana Carolina, daqui para frente, existe a expectativa de que haja hubs locais do projeto nos 26 estados onde a Dom Cabral está presente. “Começamos em Belo Horizonte, mas o desafio é do tamanho do Brasil. Tem espaço para muitos parceiros estarem conosco e entedemos que as ações presenciais são muito relevantes”, defende.

Potência da favela

O Brasil possui hoje 13.151 favelas espalhadas por 743 cidades.17,1 milhões de pessoas vivem nas favelas brasileiras. Para 57% dos empreendedores da favela, empreender é uma questão de sobrevivência. A maioria dos empreendedores permanece, atualmente, na informalidade: 63% não possuem CNPJ, segundo pesquisa do Data Favela.

O acesso a capital para investimento é apontado como uma das dificuldades na condução dos negócios para 40% dos entrevistados, seguidos pela falta de equipamentos adequados, em 25% dos casos. Para 14%, a maior dificuldade está em fazer a gestão financeira do empreendimento.

“O caminho do empreendedorismo é árduo. Há muito conteúdo disponível no mercado, mas, para falar com a favela, precisamos traduzir esse conteúdo para o ‘favelês’. A Escola de Negócios da Favela nasce com uma abordagem diferenciada, entregando trilhas de formação numa linguagem que dialoga com o empreendedor da favela”, comenta Celso Athayde, fundador da CUFA e CEO do grupo Favela Holding, uma das investidoras do Favela Fundos.

Os 300 participantes da Expo Favela serão os próximos alunos da Escola de Negócios, que poderão fazer a inscrição nas jornadas digitais nas próximas semanas. Os demais participantes serão selecionados durante as etapas preparatórias da segunda edição da Expo Favela, que será realizada no primeiro semestre de 2023.

Celso afirma que a Escola de Negócios da Favela é a realização de um sonho. “Eu nunca ouvi ninguém falar de empreendedorismo na favela: é ‘fazer os corres’, ‘dar meus pulos’, eles não usam as expressões que a academia legitimou. Tem sempre aqueles que estão sendo preparados em uma linguagem para dar as cartas na sociedade e os que estão sendo preparados para serem motoristas deles. E como a gente rompe com isso?”, questiona.

Para o idealizador da CUFA, se as pessoas empreenderem e construírem ativos dentro de um território, elas vão oferecer oportunidade para os indivíduos que estão ali, diminuindo as desigualdades. “É ascender socialmente e economicamente em seu próprio território. Se a gente fizer os empreendedores da periferia se apropriarem da linguagem que o mercado usa, eles começam a falar do lugar de quem é respeitado”, conclui Celso.

Fonte: Época Negócios

 

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