A burocracia, a necessidade de crédito e a profissionalização

Um levantamento do Sebrae divulgado na última semana indica que 61% dos microempreendedores individuais (MEIs) que recorreram a financiamentos ou empréstimos fizeram a solicitação via pessoa física.

Reportagem do Jornal Nacional que foi ao ar na terça-feira, 27 de dezembro, traz um personagem que ilustra bem essa questão, o Will da Afro, dono de uma marca de moda na periferia de São Paulo, que diz: “Por mais que a gente tenha o CNPJ, é pouco tempo. Então a gente tem que provar que vai conseguir pagar, então tem inúmeras burocracias, às vezes nós não temos essas documentações que exigem, então não é nem difícil, fica impossível”.

No último mês, o Sebrae Minas fez uma pesquisa que apontou que as pequenas empresas são em maioria negócios familiares, e que o maior desafio é distinguir as finanças da companhia das pessoais, o segundo é separar a relação familiar da profissional. Quanto menor a empresa, maior a pressão emocional pelo fato de o negócio ser da empresa, diz o Estudo.

Há três questões em pauta e que deveriam ser amplamente (e profundamente) discutidas por impactarem empreendedores de todos os portes: a burocracia, a necessidade de crédito e a profissionalização.

O primeiro ponto, a burocracia, é um problema estrutural. Afeta não apenas o empreendedor, mas toda a sociedade. É o maior custo para o país.

Tudo – absolutamente tudo – que se vá fazer, a pessoa tem que tirar um dia para resolver, se não mais. Cartórios, departamentos, deslocamentos, ligações para SACs que você é transferido para trocentas pessoas.

Sempre tem algo que a pessoa que precisa resolver está devendo, o que confirma a tese de que a premissa da burocracia é que você, cidadão, está errado. Você leu certo, não é um exagero. Essa é a premissa.

Esses dias, por curiosidade, passamos o olho na legislação do Estado da Bahia, com a ideia de avaliar o que há de incentivo ao empreendedorismo. Não há. Aliás, há algumas linhas protecionistas para minorias – sem julgamento, mas claramente são resultado de uma política popularista visto que há um enorme vazio no que diz respeito a políticas estruturantes para se empreender ou conduzir negócios. É uma legislação pós-monárquica, que defende basicamente a estrutura política e o funcionalismo público.

Por outro lado, há de se comemorar os avanços federais como o Código de Defesa do Empreendedor, de autoria do Deputado Federal Vinícius Poit. Alguém tem que olhar para os Wills.

O segundo ponto é necessidade de crédito – vejam bem, estamos falando de NECESSIDADE, não de acesso.

Não é preciso fazer grande pesquisa para reconhecer que quanto mais dinheiro, mais fácil é conseguir dinheiro. Em discussão recente na Live sobre Projeto de Lei que prevê simplificar renegociação de dívidas para micros e pequenos empresários (a PLP 33/2020), um consultor empresarial enviou um comentário interessante: “​Tomar empréstimo para comprar uma nova máquina que vai criar ativo, que pagará a dívida” – se o empresário vai pegar recurso para gerar mais dinheiro e pagar suas dívidas, ele merece esse recurso. Isso não deveria ser caro.

Voltemos ao MEI: a pessoa monta a boutique, faz as primeiras compras, tem os primeiros produtos, precisa contratar um vendedor, fazer alguma publicidade, manter a loja organizada – em alguns meses, quanto ela terá de aluguel (e se for online, por menores que sejam os custos, também há custos), contas e tudo mais? O capital inicial é importantíssimo.

Para crescer, precisa de mais dinheiro. É só pegar os DREs das grandes companhias: todas têm empréstimos.

O que deveria ser feito? Com a onda de “MEItização”, há que se separar a água do óleo. Esta semana havia um anúncio de vaga de trabalho que exigia que a pessoa tivesse seu CNPJ. Isso não é ser empreendedor individual. Empreendedor individual é o Will. E o Will precisa de recursos para manter a sua loja.

Por que enfatizamos que não se trata de acesso a crédito? Acesso é quantidade. Há diversas ferramentas, porém, a qualidade do crédito carimba o achado da pesquisa do Sebrae: é difícil conseguir o aporte para o CNPJ, então vai de CPF, mesmo pagando mais caro.

O último ponto é a profissionalização da gestão. Não apenas da gestão, mas de toda a empresa, certo? A coisa começa a funcionar melhor quando deixa de ser caseira e passa a ser PROFISSIONAL.

O empreendedor sabe matemática, tem um sobrinho que sabe mexer nas redes sociais. Mas, contratar um administrativo financeiro e uma empresa que saiba fazer marketing digital colocam a coisa em outro nível.

Se para o micro e pequeno isso é importante, quando se trata de um médio negócio, impacta ainda mais. Quanto maior a empresa, maior a necessidade de profissionalização de tudo: administrativo, vendas, cobranças, marketing… até compliance, jurídico e gestão em si.

Lembrando o que trouxemos acima, o problema de separar as contas e a relação familiar da profissional é de todos, então é melhor profissionalizar para que o negócio possa crescer, sabendo que isso terá custos, mas que é o melhor caminho para dar resultados.

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