A lógica de mercado e negócios no Brasil vive um processo de inversão, onde as nano, micro e pequenas empresas assumem papel de protagonistas em números e representatividade. São mais de 25 milhões de trabalhadores por conta própria, que geram mais de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sebrae, respectivamente.
Ainda de acordo com levantamento do Sebrae, as MPE geraram quase 1,8 milhão de novos postos de trabalho em 2022. O número representa cerca de 73% do total de empregos gerados no país, que ficou na marca dos 2,5 milhões. A participação das médias e grandes na geração de empregos ficou em 21,5%, com quase 530 mil contratações.
Diante de tamanha proporção, o Brasil se vê diante do desafio de apoiar a transformação digital dos pequenos empreendedores, incluindo os mais de 11 milhões de microempreendedores individuais (MEI), dos quais quase 25% ganham até dois salários mínimos e cujo 30% dos negócios morrem em até cinco anos.
Visando incentivar esse contingente de profissionais, a startup Agenda Boa desenvolveu uma ferramenta de gestão que auxilia na organização do negócio, gestão do relacionamento com o cliente e redução do risco de fechamento. A ideia é potencializar o desempenho e, consequentemente, faturamento de negócios menores.
Em entrevista ao Empreendabilidade, o CEO e Co-Founder da Agenda Boa, Hans Page, revelou que o app está mudando a vida dos empreendedores prestadores de serviço. “O que a gente observa quando traz essa solução aos empreendedores é que a vida deles muda realmente. Temos muitos casos interessantes, que os empreendedores relatam que começaram a usar o aplicativo e começou a crescer, conquistar mais clientes e consegue fechar 9 em 10 orçamentos”, explica.
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A ferramenta – que já soma mais de um milhão de downloads – facilita a gestão do negócio de forma simples e prática, tendo por objetivo profissionalizar pequenos negócios para que passem mais credibilidade para os clientes, maior renda, mais estabilidade e maior controle das finanças. Com isso, esperam contribuir na qualidade de vida e autoestima desses trabalhadores, que muitas vezes sofrem com baixa eficiência em seus negócios, renda instável, imprevisível e insuficiente.
“Com poucos cliques, o empreendedor consegue formalizar um orçamento bem formatado, bonito, detalhado e com todos os dados dele e do cliente. Isso passa maior credibilidade. Isso conquista o cliente, ele recebe e se impressiona e esse é um diferencial na hora de fechar o negócio”, aponta Hans.
Por se tratar de um aplicativo, Hans detalha que os próprios dados dos usuários auxiliam nas atualizações e melhorias na interface e funções. “A gente utiliza bastante isso, para entender como eles usam o app, quais funcionalidades mais utilizadas. E acabamos por fazer disso um elemento que nos permita evoluir e criar cada vez novas soluções e melhorar o serviço oferecido”, afirma.
Teoria da Mudança
O projeto tem o apoio da Artemisia, aceleradora de negócios de impacto social, que já impulsionou mais de 650 empreendedores no Brasil.
Com o impacto da pandemia, inovar virou uma condição de sobrevivência para muitos negócios; por mais tradicional que fosse o empreendimento, o contato com os clientes passou a depender de meios digitais. A transição digital era um plano para 35% dos empreendedores brasileiros antes mesmo de a pandemia começar, mas a necessidade do isolamento social acelerou esse processo.
Hoje, para muitos, o uso de tecnologias digitais ainda é circunstancial. Viabilizar a inclusão produtiva desses empreendedores também passa pelo apoio para que o uso das tecnologias digitais se torne significativo em termos de produtividade.
Na análise do economista Luciano Gurgel, diretor-executivo da Artemisia, é importante compreender que, na prática, aqueles que empreendem por necessidade enfrentam uma série de desafios; a missão de digitalizar processos é um deles. “As dificuldades passam por falta de letramento digital, infraestrutura, recursos e equipe.
Diminuir o ‘gap’ de acesso a tecnologias é urgente diante das transformações relacionadas ao futuro do trabalho”, defende Gurgel, acrescentando que negócios de impacto social como a Agenda Boa têm um papel muito relevante nesse processo de dar suporte aos empreendedores de base.
“Por isso, a Artemisia também apoiou a Agenda Boa no processo de desenvolvimento da Teoria da Mudança do Negócio”, afirma.
A Teoria da Mudança é um framework que responde de forma objetiva o que, para quem e para que uma iniciativa de impacto é desenvolvida, permitindo uma visualização do encadeamento lógico de resultados que levam ao impacto pretendido. “No caso da Agenda Boa, demos o suporte para o desenvolvimento da Teoria da Mudança do Negócio, que tem como impacto almejado a redução da desigualdade social e a transformação cultural em relação à valorização do pequeno empreendedor”, finaliza o economista.
A entrevista também está disponível no Spotify.