Newsletter de 30/01: O acaso vai te proteger, mas não ande distraído

O refrão “o acaso vai nos proteger, enquanto eu andar distraído” é da música Epitáfio, dos Titãs, escrita por Sérgio Britto – um dos letristas mais talentosos do Brasil. A banda está em turnê dos seus 40 anos, mas, duvido muito que tudo tenha sido ao acaso.

Tive a oportunidade de ir em dezembro último ao CCXP – que já é o maior evento de cultura geek, games, heróis etc. do mundo, o “Comicon brasileiro” – em São Paulo.

Paulo Miklos, outro dos Titãs da formação original, estava lá. Não tirei foto, não pedi autógrafo. Uma banda que completa 40 anos tendo tocado rock n’roll punk, pop, músicas melódicas e que deixou músicas que fazem sucesso até hoje, mereceria o registro. Mas, não é do meu comportamento fazer ‘fãzices’.

Aceito o consciente arrependimento, diferente da letra da música (epitáfio é o texto-recado que vai na lápide do túmulo), que fala sobre o arrependimento de não ter vivido as coisas boas da vida.

Como sempre lembramos algumas questões filosóficas nos textos aqui, deixar ao acaso seria aceitar que você não está no controle de tudo. É diferente de deitar e esperar tudo acontecer. Mas, aja no que você pode controlar e aceite o que você não pode.

O final de semana foi cheio de histórias de acaso, e se observarmos, a vida é cheia delas:

– Um amigo pessoal que contou que o filho dele, de 7 anos, pergunta como é possível que a rádio toque justamente a música que ele estava pensando, ou que tenha encontrado uma pessoa na rua que eles acabaram de comentar a respeito. Observador!

– Um casal amigo da família acabou se conhecendo por algumas coincidências da vida. Por acaso, eu estava presente na maioria delas. Posso eu pleitear o mérito por estarem juntos? Claro que não.

–  Outro amigo dos meus pais, arquiteto renomado, contou que fazia uma obra de reforma na casa de Jorge Amado, lá nos anos 70. Ele aproveitou um raro momento para lhe perguntar se os contos do capitão-de-longo-curso, Vasco Moscoso de Aragão, da obra “Os Velhos Marinheiros” (1961), eram ouvidos ou inventados. Sim, a história foi ouvida, e observada.

 

Na obra Os Velhos Marinheiros, alguns personagens duvidam das façanhas do capitão-de-longo-curso Vasco Moscoso de Aragão. Contudo, não era pouca a sua credibilidade, ainda mais pela sorte, que vamos chamar aqui de acaso, que ele tinha. Seria ele um falsário, ou realmente havia vivido as proezas?

 

Ao chegar no último porto, um marinheiro lhe pergunta sobre as amarras, e o diálogo segue desta forma:

 

“(..) o senhor, velho marinheiro que tão bem conhece as leis da marinheiraria, certamente não está se lembrando de que este é o último porto da viagem e que, no último porto, compete ao comandante, e a ninguém mais, ordenar o número de amarras com que deve ser o navio amarrado”

O capitão experiente, então, amarrou o navio com todas as amarras. Riam dele, mas ninguém sabia que Moscoso de Aragão era o único que seria capaz de prever a tempestade que se aproximava.

 

“Os ventos do Nordeste, o Terreal e o Aracati, ocuparam-se do barco inglês e do navio do Lloyde, desamarrando-os de suas insuficientes amarras, batendo um contra o outro num rumor de cascos rotos (…) Terreal naufragou o cargueiro do cais, num torvelinho, para que ali ficasse plantado como lembrança e advertência.”

 

A fama procedeu o homem e chegou a Salvador, mais precisamente a Periperi:

“Telegramas publicados em manchetes nos jornais da Bahia, durante dias seguidos, avidamente lidos em Periperi (…) Emocionante festa a bordo do Ita por ele salvo e no qual regressava a Salvador.”

 

Assim vamos, navegando em um mar de surpresas e amarrando bem os nossos barcos quando parados no porto.

O acaso está aí, mas não andemos distraídos.

 

RM.

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