O fenômeno da ‘pejotização’ e o que isso tem a ver com empreendedores

Perdi o emprego no auge da pandemia. Um trabalho ‘tradicional’ com carteira assinada, benefícios, plano de saúde, vales transporte e alimentação. Enquanto buscava recolocação, observei que a maioria das oportunidades exigia emissão de nota fiscal, ‘modelo PJ’. Uma protusão de anúncios, com um padrão: para cada dez vagas PJ, uma CLT.

Abri uma MEI – Microempreendedor Individual – em pouco menos de 10 minutos e estava definitivamente pronto para encarar o mercado novamente. Não demorou dois meses para que encontrasse uma nova oportunidade, com valores praticamente equivalentes. Eu fui… eu fui ‘pejotizado’. De lá para cá, apenas projetos e oportunidades via CNPJ surgiram e se concretizaram.

A história é real deste que escreve, mas poderia ser de outros 6.5 milhões de brasileiros, que tinham emprego antes de abrir um CNPJ, seja informal ou com carteira assinada. O segundo corresponde a mais da metade (51%) das MEIs abertas entre 2020 e 20201 – período mais crítico de isolamento da pandemia de Covid-19.

Essa realidade, acelerada pela crise de saúde, onde muitas pessoas perderam empregos com carteira assinada e viram na necessidade uma nova chance, acelerou o fenômeno batizado de ‘pejotização’, a proliferação de CNPJs para vagas de emprego que antes eram ocupadas pelo modelo tradicional. Ou, por que não, quem tenha vislumbrado uma oportunidade e apostou na MEI para criar um novo negócio?

“Começou-se a gerar um despertar nas pessoas para construir o próprio plano de carreira, objetivos salariais, financeiros, projetos”, afirma Telma Rossetti, coach, empreendedora e especialista em desenvolvimento humano.

Segundo Telma, trabalhar sob o modelo PJ dá ao empreendedor maior autonomia sobre seus horários, demandas e o exime da exclusividade, podendo prestar serviços para outras empresas simultaneamente e diversificar sua renda. “A ‘pejotização’ também é uma espécie de autoconhecimento. Porque, antes, parecia que a responsabilidade nossa riqueza estava na mão do outro: dependia de um CNPJ, estrutura, modelo de trabalho, plano de carreira”, completa.

Flexibilidade e autonomia são os aspectos que mais contribuem para a proliferação de MEIs no Brasil, mas a instabilidade joga contra. Abrir uma MEI coloca o trabalhador na esteira do empreendedorismo, dando o primeiro passo, uma espécie de categoria de base para formação de um empreendedor à frente de um negócio próprio, mesmo que ‘o negócio’ seja ele e seu computador.

A tendência é que essa realidade se estabeleça cada vez mais nos próximos anos, uma vez que as empresas também estão priorizando contratar pelo modelo PJ e, inclusive quem tenha um emprego formal, pode se utilizar do PJ para complementar a renda, o popular ‘freela’, o antigo bico.

Mesmo assim, muitas pessoas que abriram MEI no auge da pandemia, conseguiram voltar a seus postos de trabalho após a retomada, o que liga o alerta: a porta está aberta para todos, mas talvez não é todo mundo que deva entrar. A dica do Empreendabilidade é: na dúvida, abre uma MEI. MEI, canja e vitamina C, mal não há de fazer.

Assine nossa newsletter e fique por dentro de todas as notícias

Ao assinar a newsletter, declaro que conheço a Política de Privacidade e autorizo a utilização das minhas informações.

Obrigado!

Você passará a receber nossos conteúdos em sua caixa de e-mail.